Thursday, November 21, 2013

Campo de semear!



Se um homem há-de comer,
No suor do rosto há-de semear;
E vinho novo há-de beber,
No afã final do seu lavrar.

Mas há uma fome,
Que tudo consome,
E nem deixa restolho,
A fome do meu olho!

Uma fome profunda,
Onde o meu vazio coração,
Cai e se afunda,
Sem encontrar chão!

Os teus seios são montes,
Por onde estendo o olhar.
Os teus lábios são fontes,
Onde esta sede quero saciar!

Quem dera o teu corpo lavrar,
Com estas minhas mãos dele cuidar,
E mesmo que nele não nasça pão,
Saciar nele, meu esfomeado coração!

Deixa que beije sôfrego essa terra,
Que loucamente anseio poder possuir!
E a amarga dor, qual escorpião que ferra,
Me obriga a largar-te, a deixar-te ir!

E na neblina que me cobre o olhar,
Latejando, em bruta pulsação,
Sonhando que me vens salvar,
Mas não é nada, é só alucinação!

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